Quando a gente se apaixona por uma pessoa levamos em conta
todas as características marcantes dela. Pode ser um bom papo, humor incrível,
inteligência única... Algumas vezes ganhamos tudo isso no pacote, outras vezes,
uma dessas características vem acompanhada de olhos lindos e penetrantes, pele
que dá um choquinho quando toca a sua ou algo assim.
Mas e se essa pessoa que ganhou seu sonhos estivesse sentada
em uma cadeira de rodas? E se tivesse mobilidade reduzida? E se você for a
pessoa sentada nessa cadeira de rodas? Muda alguma coisa? Como funciona?
Antes de tudo, é bom lembrar que pessoas em cadeiras de
rodas são iguais a você em quase tudo, a única diferença é a mobilidade. Os
sentimentos, as conversas, os interesses... tudo é igual!
Dar e receber prazer, amor e ter cumplicidade funciona da
mesma forma entre todas as pessoas. Existem pessoas legais ou não em todos os
lugares, de todas as cores e com todas os dificuldades que você pode imaginar —
pode ser muito mais fácil se relacionar com alguém com mobilidade reduzida do
que com alguém com o coração fechado!
Para entender melhor como funciona a hora H com uma pessoa
na cadeira de rodas, conversei com o jornalista Jairo Marques, que escreve o
blog "Assim como Você", é professor universitário, chefe de
reportagem de uma das maiores agências de notícia do país e colunista de um dos
grandes jornais de São Paulo. E cadeirante.
Uma das primeiras coisas que ele me disse foi: "Antes
de tudo, quero só que você reflita sobre a visão projetada nas pessoas com
deficiência. Cadeira de rodas não tem naaaada a ver com capacidade de
conquista, de potencial de dar prazer etc. Tem diferenças? Na essência, não tem
nada: tesão é tesão, sedução é sedução, sacanagem todo mundo gosta... Isso
precisa estar claro. O que muda, talvez, são instrumentos para chegar lá,
saca?". Entenderam? Uma coisa não tem nada com a outra e é partindo daí
que você deve ler esse papo!
Existe preconceito quando uma mulher andante se interessa
por um cadeirante. Como driblar essa questão sem se esconder do mundo?
O preconceito é nato do ser humano. Mulheres que namoram ou
que queiram ter uma relação sexual com homens cadeirantes são vistas, muitas
vezes, como heroínas, como corajosas por "assumir" uma
responsabilidade. Isso é uma grande bobagem, pois pessoas com deficiência não
estão à procura de enfermeiras quando saem para paquerar, quando procuram uma
namorada, uma transa... Todo mundo quer mesmo é prazer, é relacionamento, é
amor.
Por trás dessa questão, há reflexões mais profundas: homens
com deficiência costumam ser mais atentos aos detalhes, costumam valorizar
muito as vontades da parceira, então, os casos de "sucesso" na cama
são bem conhecidos. (Risos)
A situação da mulher cadeirante já é diferente. Homens
costumam ser mais visuais, querem ver a "bunda", querem ver um rebolado,
coisa de bicho, não é? Então, há uma grande desvantagem inicial na conquista.
Não é regra, evidentemente. E o que fazer? Apostar naquilo que você tem de bom:
os olhos bonitos, um papo gostoso, um cabelão delícia... Amar e fazer amor é
para todos, com toda certeza.
Como uma mulher 'andante' pode abordar o assunto (sexo) ao
se interessar por um rapaz cadeirante?
O primeiro passo é usar o bom senso. O cara não vai
conseguir transar numa posição maluca do Kamasutra, certo? Não vai rolar
dependurar no ventilador. Mas o que é possível? Sexo oral? Sexo por cima, por
baixo, atravessado na cama? A melhor posição
é aquela em que os dois chegam ao orgasmo e não aquela que esteticamente
parece bacana.
Não há mal nenhum em perguntar aquilo que se tem dúvida. Homens
com lesão medular podem ter ereção normalmente. É uma lenda achar que todos
padecem de impotência. Mulheres com deficiência têm filhos, têm prazer... Uma
dica é explorar mais o tato por todo o corpo, é ser sensível às dicas que o
parceiro com deficiência dá com olhares, com toquinhos...
Qual o primeiro passo - para cadeirantes e andantes - para
tornar a relação sexual interessante e possível?
Quer falar de sacanagem com um cara cadeirante? Comece! Ele
já sabe que a maioria das pessoas tem uma visão atravessada e, se for uma
pessoa que gosta de sexo, loguinho vai se apressar em explicar tudinho e, de
cara, tentar gerar uma atração, uma vontade de deitar e rolar na paquera.
Quais são as diferenças e similaridades entre o sexo entre
andantes e entre cadeirante e andante?
Diferenças: é feito um pouco mais devagarinho! Explora mais
os sentidos, as brincadeiras, a língua! Semelhanças: o objetivo é ter um
orgasmo ou um momento de prazer e sacanagens são absolutamente iguais, enfim,
essa é mais difícil de responder porque não vejo o sexo como uma diferença, as
diferenças se reservam às questões físicas ou sensoriais apenas!
Quais suas dicas para mulheres que pretendem fazer sexo com
homens cadeirante?
Ele não vai quebrar se você subir sobre ele, faça com gosto
e com tesão! Sexo oral é para todos. Explore o corpo todo - homens com
deficiência gostam de prazer até no lóbolo da orelha. (Risos). Exponha abertamente suas dúvidas,
pergunte antes de achar que algo é impossível, não deixe de pedir aquilo que
você gosta na cama e juntos se cria uma forma de chegar perto daquilo que um
andante faria e com chances de ser ainda mais gostoso.
Não sei para vocês, mas a mim, parece que todas as dicas que
Jairo deu se aplicam ao sexo entre andantes também. Esqueça o preconceito, não
deixe que os olhares das pessoas mudem o que você sente ou o que poderia sentir
se se permitisse. Ser feliz vai muito além do que o julgamento alheio pode
interferir.