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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nove semanas e meia de amor.

Quando começa a traição? As regras mudam de casal para casal. Mas o que acontece quando elas são diferentes para os parceiros de um mesmo relacionamento?

Carina Martins, iG São Paulo


Que o marido tivesse tantas mulheres em seu perfil de redes sociais era um incômodo para a funcionária pública Wanda Oliveira, 41. “Ele também reclamava de alguns contatos masculinos no meu”, diz. Não que ela achasse que isso fosse necessariamente traição – não havia nada no acordo do casal que dissesse que era proibido conversar online com desconhecidos do sexo oposto. Então, ninguém estava quebrando regra nenhuma. Mas, por alguma razão, isso incomodava os dois.

E olhar para o lado, pode?
No segundo ano de casamento, o marido confessou a Wanda uma escapada sexual com uma conhecida em uma festa. Pediu perdão, e ela perdoou: “Não foi fácil. A mágoa demorou a passar. Não conseguiria perdoar se ele tivesse realmente um relacionamento com ela, por exemplo. Não conseguiria”. Ela também acha que não teria conseguido superar se tivesse ficado sabendo por terceiros. “Seria muita humilhação”.



O casamento de Wanda vive sob a forma mais comum de acordo – o monogâmico, em que os dois se comprometem a não fazer sexo com outra pessoa. Mas mesmo uma regra aparentemente clara pode ter mais gradações do que mostra à primeira vista. A história de Wanda é um bom exemplo: mesmo não envolvendo nenhum contato físico, as “amizades” online incomodavam pela intuição do quase inevitável “flerte”. “Sem dúvida é uma ‘porta de entrada’ para a infidelidade”, acredita. Por outro lado, quando houve o contato físico propriamente dito, o casal conseguiu contornar o que, pelo acordo, seria incontornável. Ela notou um novo limite, o do romance, que a perturbaria mais do que uma noite de sexo. Quando, afinal, começa a traição?
“A traição é o rompimento de um acordo. Isso envolve a quebra de algo que foi combinado entre as pessoas envolvidas. Não quer dizer que a traição seja necessariamente sexual, ela pode ser financeira, moral, etc”, diz a psicóloga Renata Soifer Kraiser. “Não há uma regra para o que é o começo da traição. O que para uma pessoa pode ser um indício, para outra pode ser uma bobagem. Por isso o diálogo é tão importante, para que as partes envolvidas tenham plena consciência de quais são as regras”.

A regra é clara
Quando não são esmiuçadas, pode acontecer de um mesmo casal viver com regras individuais. A publicitária Janaína Oliveira, por exemplo, sempre gostou de postar online fotos suas em poses provocantes. Por causa disso, recebia mensagens de admiradores, e respondia. “Gosto de flertar, e a internet é um meio seguro para isso. Nunca encontrei nenhum desses homens, nem nunca encontraria. Para mim, nunca traí meu namorado”, afirma. Mas o namorado de Janaína pensava diferente. “Nunca tínhamos falado sobre isso. Um dia, ele descobriu as fotos – que eu não escondia – e ficou enlouquecido. Se sentiu muito traído. Chegou a terminar comigo”. Um mês e muita conversa depois, eles reataram. “Aí discutimos tudo. Bem preto no branco mesmo, falamos de forma realista o que nos incomodaria nesse sentido. Deu certo”. O flerte foi proibido - tanto na vida real quanto na virtual. E agora ela manda fotos só para ele.
O caminho escolhido por Janaína e seu namorado é o ideal na opinião da psicóloga Renata. “As áreas cinzentas vão aparecendo e tudo tem que ser conversado à medida que elas aparecem”, diz. Pode adicionar desconhecidos nas redes sociais? Admirar alguém atraente na frente do parceiro? Flertar? Sexo casual? Sexo virtual? Só beijar? São muitas as variantes, e todas devem ser discutidas. “Devem ir conversando sempre que aparecer algo que incomoda. Assim, eles têm a chance de refazer o acordo”.
Mas as regras devem ser realistas. O psicólogo Bruno Mendonça alerta que não adianta querer coibir intenções e pensamentos. “Muita gente acha que a traição começa quando o parceiro fantasia ou deseja outra pessoa. Criar uma regra que tente impedir isso só vai criar situações de mentira e culpa”, diz. “Um casal em que os dois são honestos um com o outro e partilham a vontade de fazer o relacionamento dar certo deve apenas fazer um acordo claro e confortável que administre de forma confortável esses desejos e fantasias”.

Por que os homens traem?


A lógica da traição

Desde 1998 a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mirian Goldenberg entrevista homens e mulheres para uma pesquisa ampla sobre infidelidade. Já foram ouvidas 1 279 pessoas e 60% dos homens confessaram-se adúlteros (e sabe-se lá quantos não tiveram coragem de contar à professora).

Todas as desculpas, das mais nobres às mais esfarrapadas, são invocadas para explicar esse alto índice. Alguns estudiosos culpam a testosterona, o hormônio masculino da agressividade (e da conquista). Outros afirmam que o sexo com diversas parceiras contribui para a perpetuação da espécie de qualquer ser vivo, e não apenas do homem, motivo pelo qual a monogamia é rara e até antinatural.

"Existem muitas razões para a infidelidade e todas passam pela necessidade de provar algo a si mesmo", acredita Oswaldo M. Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. "Alguns homens aprenderam que, para se sentirem machos, precisam trair." Para o psicanalista carioca Olivan Liger, ainda há resquícios de patriarcalismo nas relações - que resistem apesar de todas as conquistas femininas. "O compromisso do homem continua sendo com a capacidade de prover, não com o sexo. Há uma demanda quantitativa por conquistas sexuais."

Para os homens que ouvimos nesta reportagem, toda essa teoria tem outros nomes: tesão, novidade, mulher que não se cuida (sim, pasme!), instinto de caçador. Alguns, porém, seguram a onda, resistindo bravamente à traição.

"A culpa é das mulheres"

Adriano Soares, 45 anos, empresário, dois casamentos - o primeiro durou 8 anos e o segundo já dura 13, - um filho

"Os homens traem muito. E sabem de quem é a culpa? Das mulheres. Quando se sentem donas do pedaço, elas se acomodam, descuidam da gente e delas mesmas. Traí várias vezes minha primeira mulher. Nos primeiros seis anos de casados, ela era diferente: cuidava de nós e sabia ser esposa, namorada e amante. Eu não pensava em traição. Nos últimos dois anos, depois do nascimento do nosso filho, virou uma mãezona, cheia de não-me-toques.

Fisicamente, também mudou, como todas as mães: vem a barriguinha, o peito cai... Isso é normal; o problema é que a qualidade do sexo também caiu. Tentei conversar, mas não adiantava. Aí passei a procurar outras mulheres. O primeiro caso durou um ano, mais ou menos. Aliás, fico no máximo dois anos com uma amante, senão vira relacionamento sério e ela começa a falar em casar.

Minha ex nunca soube, porque eu não deixava pistas. Não me arrependi, sabe por quê? Porque a culpa era dela. Agora estou casado há 13 anos e não traio. Não vejo necessidade."


Dê um flagra na traição (e seja feliz sem ele!) Aprenda a decifrar as pistas deixadas por um traidor e acabe de vez com a infidelidade masculina

Que mulher ainda não teve vontade de virar uma mosquinha ou encontrar a capa da invisibilidade só para seguir de perto os passos do namorado e conferir se aquele futebolzinho era mesmo tão inofensivo? Verdade que, algumas vezes, as evidências de que um homem anda pulando a cerca são tantas que começamos a tropeçar nelas. Mas há casos em que fica difícil descobrir se tudo não passa de fantasia ou simples ciúme. Para muitas, a melhor maneira de colocar tudo em pratos limpos - sem confrontar diretamente o parceiro ou ir atrás dele disfarçada - é recorrer aos serviços de uma agência de detetives.

A espanhola radicada no Brasil Maria Angeles de Bekeredjian, ou apenas Ângela, é uma das profissionais especializadas em esclarecer esse tipo de desconfiança. De seu escritório, no bairro do Cambuci, na zona sul de São Paulo, ela administra 15 agentes que trabalham, entre outras coisas, na arte de pegar maridos no pulo. ''Em geral, a investigação não dura mais do que uma semana. É tempo suficiente para conseguir um flagrante, se o investigado for mesmo culpado'', diz a profissional. ''Antes de aceitar, pergunto à contratante se ela realmente está preparada para saber a verdade. Aquela que recorre a um profissional já tem indícios da traição e, infelizmente, em 90% dos casos, quem procura acha'', explica. ''Uma vez, descobri que a própria sogra saía com o genro. Quem podia imaginar? Mas era verdade.''


Olho clínico

A detetive carioca Márcia Marinho também é treinada em desmascarar infiéis. Ela se interessou pela profissão depois de ajudar uma amiga do colégio a descobrir a traição do namorado com uma vizinha. Em um de seus trabalhos mais recentes, confirmou a suspeita de uma esposa que encontrara um comprimido de Viagra caído no carro do marido. ''Logo no segundo dia o pegamos num motel em Botafogo, na zona sul da cidade. Eu e outro agente nos passamos por um casal e entramos atrás dele. Filmamos a chegada, a placa do carro e a acompanhante'', conta. Às vezes, nem é preciso ir muito longe para descobrir um salafrário à luz do dia. ''O caso do marido de uma cliente que trabalhava como auxiliar de enfermagem era com a síndica do prédio onde eles moravam. Quando convocamos a contratante para presenciar o segundo flagrante, ela perdeu as estribeiras e saiu dando bolsadas'', lembra.

Dona de uma agência de investigação há dez anos, a detetive paulista Giselle de Lucca também já teve de revelar a uma cliente o modo nada convencional como o marido aprontava. ''Ele parecia certinho, tomava café todos os dias em uma padaria próxima, fumava um cigarro antes de entrar na empresa e almoçava no próprio local. Até que na segunda semana o investigado saiu ao meio-dia em ponto, entrou no carro e dirigiu até um sobrado no bairro do Paraíso, sem nenhuma identificação do lado de fora. Descobri que se tratava de um negócio especializado em sexo sadomasoquista. Confrontado pela mulher, ele acabou confessando que achou o lugar na internet e acabou gostando.''


Diagnóstico correto

É importante que se diga: algumas mulheres se tornam tão paranóicas com a idéia da traição que torcem para que o flagrante se concretize, apenas para provar ao mundo que ninguém jamais irá passá-las para trás. Por isso, é bom perguntar se a vontade de contratar um detetive não representa ciúme excessivo ou doentio, baixa auto-estima ou trauma por ter sido enganada em uma relação anterior. Por essas e outras, Ângela, que é formada em psicologia, abre o jogo com quem a procura logo de cara. ''Digo que, se a suspeita for positiva, elas terão de tomar uma posição que pode acabar em briga ou separação'', comenta. A publicitária Stella, por exemplo, que há alguns anos usou os serviços da detetive para investigar o marido, confidencia que descobrir a traição a fez perder o chão. ''Ainda mais no meu caso, que não desconfiava de fato que ele tivesse uma amante. Eu achava que o meu companheiro tinha se metido em algum negócio ilícito, pois andava ausente e vivia viajando. Chegava sempre tarde e dizia não ter dinheiro para nada. Pensei que pudesse ajudá-lo se desvendasse o motivo de tanto mistério'', conta. Durante a investigação, Ângela descobriu que o rapaz mantinha outra família, com mulher e dois filhos. ''Levei um choque tremendo, mas reagi e fui direto para o escritório de um advogado'', diz Stella.

Uma cliente da detetive carioca Márcia Marinho teve surpresa semelhante. A profissional dá os detalhes: ''Ela era modelo, jovem, bonita e não entendia por que o marido não queria mais transar. O sujeito não tinha uma rotina fixa e corria muito no trânsito, por isso foi difícil segui-lo. Mas, depois de 28 dias de investigação, finalmente o flagramos na entrada de um motel na avenida Niemayer. O caso dele era com um travesti de boate''.


Evidências à parte

Antes de sair no encalço de um homem, uma boa profissional costuma analisar com a cliente se existem reais motivos para a suspeita. Será que a contratante anda carente ou exige mais atenção do que o namorado pode dar no momento? Ou o rapaz anda mesmo diferente? A intuição feminina, nesse caso, vale ouro. Quem está junto há algum tempo já conhece bem os gostos, a rotina e a personalidade do parceiro. Algumas mudanças, como perder o interesse por sexo, até podem revelar que algo não caminha bem nessa relação. Mas nem sempre representam sintoma de outra mulher na parada. É preciso refletir, ainda, se o moço obedece ao perfil ''galinha''. Por exemplo? Se o bonitão nunca abre mão de sair com outros amigos solteiros, sempre faz hora extra no trabalho, adora conversar com todo mundo em uma festa, deixa a namorada num canto, não é preciso bola de cristal para saber onde vai dar, concorda? Segundo Ângela, a suspeita de um homem ter se engraçado com outra merece pesquisa somente se houver algo concreto, como telefonemas sussurrados, mensagens melosas, sumiços inexplicáveis e cancelamentos sucessivos de encontros.


Lavagem de roupa suja

E depois de um flagrante? Nem sempre pegar um traidor no pulo precisa terminar de um jeito ruim. A primeira providência, em caso de constatação, é convocá-lo para uma conversa séria. Perguntar claramente o que o fez procurar carinho em outras paragens (e avaliar se a resposta soa sincera) pode fazer diferença. Será que o sexo caiu na rotina? As brigas surgem por qualquer bobagem? Faltou coragem para confessar uma atração passageira? Nesses casos, Ângela oferece aconselhamento conjugal. ''Para continuar junto, o casal precisa esquecer o passado e retomar a relação sem olhar para trás. Isso é muito difícil, mas não impossível. A terapia ajuda a botar para fora o que necessitaria ser dito entre quatro paredes e ficou bloqueado por qualquer razão'', explica. Mas será que a experiente detetive acredita mesmo que um traidor inveterado tem chance real de cura? Para ela, pular a cerca pode virar um hábito, quase um vício. O que faz diferença é o amor. ''Se o sentimento for bastante forte, pode sobreviver a uma escapulida e reflorescer são e salvo.''
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