Abertura do 4º Congresso Virtual - A Mulher e a Infecção pelo HIV/SIDA
As estimativas da UNAIDS/WHO actualizadas em
Dezembro de 2002 revelavam um total de 42 milhões de
pessoas a viver com VIH/SIDA, das quais 50% são
mulheres.
Das pessoas que morrem de SIDA, 50% são mulheres.
Nas novas infecções, 50% são mulheres.
A tão cobiçada igualdade é alcançada no contexto desta
infecção devastadora.
E porquê? Porque são as mulheres tão ou mais vulneráveis
que os homens ?
Existem factores e ordem biológica, económica, social e cultural tais como uma maior
superfície de exposição das mucosas, microlesões que ocorrem durante o acto sexual,
particularmente se forçado, a dependência material dos homens a vigorar ainda para
muitas regiões do globo, que as impede de controlar quando e com quem vão ter sexo.
Em alguns locais de África as mulheres jovens têm uma probabilidade 5 a 6 vezes
superior de serem infectadas do que os rapazes da sua idade; essas raparigas infectadas
transmitem o VIH aos homens mais velhos que por sua vez infectam as suas mulheres.
Das mulheres espera-se tudo; que trabalhem, tomem conta da casa, tenham filhos e
tratem deles, se mantenham apetecíveis, sejam inteligentes q.b., em resumo, que sejam
super-pessoas.
Se esta tarefa surge como utópica quando existe saúde, não é difícil imaginar o impacto
da infecção VIH neste contexto.
Parece-me crucial construir o fortalecimento da posição da mulher na sociedade, uma
vez que esta mudança no comportamento será uma das defesas essenciais contra a
infecção VIH.
É fundamental, sobretudo nas áreas rurais o aumento da educação básica, a diminuição
da fertilidade não desejada através do acesso ao planeamento familiar, a possibilidade de
dizer não a uma relação sexual sem preservativo.
Em termos científicos, é urgente estudar as diferenças entre os 2 sexos, uma vez que
quando esta infecção surgiu os estudos iniciais se basearam no sexo masculino, e os
critérios clínicos aplicados actualmente não contemplam a diversidade da sintomatologia
e a progressão da doença nas mulheres.
Espero que este congresso possa de alguma forma contribuir para mudar esta situação,
ou tenha pelo menos o mérito de nos sensibilizar para esta temática.
E porque a humanidade não vive só de estatísticas e de ciência vou terminar partilhando
convosco excertos de um texto de Paulina Chiziane contidos no livro Niketche: “De
repente começo a chorar todas as lágrimas do mundo. Deus meu, por que me fizeste
mulher? Mulher é aquela que tem a língua de serpente e por isso carrega nas costas todo
o peso do mundo. Mulher é fel e a misteriosa criadora de todos os males do
universo…ela é um projecto imperfeito. Toda ela é feita de curvas. Não tem sequer uma
linha recta, não se endireita. É surrealista? Não. É abstracta? Também não. É gótica, isso
sim. Tem arcos, abóbadas, ogivas. Ela é mole, ela é fraca, ela é teimosa como a gota de
água que tanto bate até que fura….Na mulher o sangue não acaba. É menstruação, parto,
agressão e espinhos no coração. Ainda assim, dá sangue para salvar os moribundos e
fabrica o sangue dos filhos, dos netos, dos bisnetos e tetranetos que hão-de nascer
qualquer dia. Mulher é rija como um monte de feno e chora por dá cá aquela palha.”
Finalmente, e dirigido a todos os homens e mulheres que venham a ler este texto, o
apelo à reflexão: “ A moral é uma moeda. De um lado o pecado, de outro lado a virtude.
Silêncio e segredo unidos, no equilíbrio do mundo”.
Vale a pena pensar e …prevenir!
Maria Jorge Arroz - Vice-Presidente de SIDAnet - Associação Lusófona
